2013-09-07
Rádio Vaticana
«Deus viu que isso era bom» (Gn 1,12.18.21.25). A narração bíblica da
origem do mundo e da humanidade nos fala de Deus que olha a criação, quase a
contemplando, e repete uma e outra vez: isso é bom. Isso nos permite entrar no
coração de Deus e recebermos a sua mensagem que procede precisamente do seu
íntimo. Podemos nos perguntar: qual é o significado desta mensagem? O que diz
esta mensagem para mim, para ti, para todos nós?
Mas perguntemo-nos agora: é este o mundo em que
vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela
continua a ser uma obra boa. Mas há também “violência, divisão, confronto,
guerra”. Isto acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o
horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.
Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus
próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos
ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então
deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à
indiferença, ao conflito. É justamente isso o que nos quer explicar o trecho do
Gênesis em que se narra o pecado do ser humano: o homem entra em conflito
consigo mesmo, percebe que está nu e se esconde porque sente medo (Gn 3, 10);
sente medo do olhar de Deus; acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne
(v. 12); quebra a harmonia com a criação, chega a levantar a mão contra o seu
irmão para matá-lo. Podemos dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Não.
Não existe a “desarmonia”: ou existe harmonia ou se cai no caos, onde há
violência, desavença, confronto, medo...
È justamente nesse caos que Deus pergunta à consciência do homem: «Onde está o teu irmão Abel?». E Caim responde «Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Esta pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem perguntar:
- Acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o
guarda do teu irmão! Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros!
Contudo, quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que
devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir.
Quanta violência surge a partir deste momento, quantos conflitos, quantas
guerras marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos irmãos e
irmãs. Não se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda
violência e em toda guerra fazemos Caim renascer. Todos nós! E ainda hoje
prolongamos esta história de confronto entre irmãos, ainda hoje levantamos a
mão contra quem é nosso irmão. Ainda hoje nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo
egoísmo, pelos nossos interesses; e esta atitude se faz mais aguda:
aperfeiçoamos nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis as
nossas razões para nos justificar. Como fosse uma coisa normal, continuamos a
semear destruição, dor, morte! A violência e a guerra trazem somente morte,
falam de morte! A violência e a guerra têm a linguagem da morte!
3. Neste ponto, me pergunto: É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: - Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz! Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade. Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: «Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra! (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881). «A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS 67 [1975], 671). Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz. Amém.
3. Neste ponto, me pergunto: É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: - Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz! Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz! Que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade. Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: «Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra! (Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881). «A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS 67 [1975], 671). Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz. Amém.
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